sábado, 2 de julho de 2011

A pior das deficiências é a da alma

Primeiramente, gostaria de avisar aos leitores e leitoras menos atentos(as) que no texto inicial do blog eu afirmo que não sei qual será a freqüência de escrita, muito menos se a mesma existirá. Estou largando logo esta ousadia de cara, pois tenho sido cobrada por um monte de gente que se diz leitor/leitora assíduo(a) daquilo que escrevo, recebo acusações de ter deixado uns e outros viciados na minha leitura e que nunca mais dei o ar da graça, umas e outras que catou um texto novo para dar aula,...“Ói”, vocês me deixem, viu?! Ri muito com o que ouvi pela minha ausência de escrita...

Mas vamos ao que interessa! Tenho muitas coisas em mente para escrever, umas inacabadas e pela ordem de prioridade, hoje vou provocar um pouco acerca daquilo que chamam deficiência física.

Uma das minhas justificativas para a minha ausência foi por conta da minha deficiência física. Sim, sou deficiente física! A Miastenia Gravis, doença que até os marcianos sabem que eu tenho, me incapacita fisicamente e de acordo com protocolos médicos, pesquisas, definições mundiais em documentos de saúde, com direitos assegurados na Constituição Federal. Muitas pessoas, quando querem conversar sobre a minha doença e repito tudo que já disse no blog, Orkut, Facebook, email, MSN, telefone, conversas de bar, de ônibus, telepatia, sonhos e outras milhões de formas e momentos eu afirmo que aceito a condição de deficiente de forma muito tranqüila.  
http://www.gruporsbrasil-online.com.br/gilson/noticias.asp?cod=18


Muitas acham que eu estou me agourando, outras que não tenho necessidade de chamar atenção com tal afirmação, outra se fazem de maluca e não reconhecem o que eu digo, outras demonstram claramente que não aceitam aquilo que é a minha condição e que eu já aceitei. Qual o problema, hein?

Na comunidade de Miastenia Gravis do Orkut, li o depoimento de uma miastênica em que ela falava sobre o uso da cadeira de rodas. Para alguns portadores da doença, há momentos que sem a cadeiras de rodas, não existe possibilidade de locomoção e esta é uma possibilidade que pode ser minha também. A minha companheira de MG citou no tópico que certa feita uma senhora olhava para ela com um ar penoso por conta dela estar na cadeira de rodas. Não satisfeita, a senhora ainda largou esta pérola: “Uma moça tão bonita usando cadeira de rodas, que sofrimento!”. Ô gente, só feio que usa cadeira de rodas é? E outra, que parâmetro de feiúra ou belezura se usa para o deficiente físico ou não deficiente? A menina, muito educada, não deu à senhora a resposta que quem bem me conhece sabe que eu daria na hora. Mandaria ela tomar no monossílabo!

É óbvio que eu não desejo dar uma volta no Salvador Shopping, trabalhar, pegar ônibus, ir à praia ou ir ao ensaio do É o Tchan do Brasil de cadeira de rodas, mas caso a doença exija tal condição qual é o problema? Com certeza, não vai faltar quem empurre a cadeira, ou vai? Esta é uma situação superada para minhas caramiolas enlouquecedoras que esta doença me trouxe.

 O que me preocupa de fato é a falta de respeito e o preconceito que se tem ao deficiente físico neste país. Eu mesma, já fui vítima deste preconceito algumas vezes. No ápice da última crise que tive, tentei subir no ônibus. Gente, pensei que estivesse escalando uma montanha por conta da altura do degrau! Dando continuidade ao meu sufoco, fiquei alguns minutos tentando passar no torniquete sem conseguir. Como tenho perda de força, pasmem, nem conseguir empurrar o torniquete eu conseguia. O cobrador se fez indiferente da minha existência e me deixou lá me acabando para conseguir passar, até que um rapaz que estava atrás me ajudou.

Uma outra situação bastante constrangedora foi numa fila de uma loja de departamentos aqui em Salvador. Eu tinha pouco tempo que havia feito cirurgia e fui para o atendimento preferencial. Estava munida da minha carteirinha da ABRAMI (Associação Brasileira de Miastenia Gravis) e fiquei na fila. Já estou acostumada com os olhares de reprovação das pessoas que procuram a deficiência em mim, um braço amputado, uma perna atrofiada, uma barriga de gravidez e não encontram. No início, a vontade era gritar bem alto para todo mundo ouvir na fila, armar um barraco e esfregar a carteira nas fuças de quem olhou mais feio, mas eu entendo que além da falta de educação e respeito das pessoas, muitas outras que estão na mesma condição que eu utilizam de ardilosos artifícios para obter vantagens. Voltando à fila, uma funcionária me disse em alto (alto mesmo) e bom tom, com o olhar de reprovação e cheia de caras e bocas que a fila em que eu estava era preferencial. Respondi a ela o que era óbvio, “Querida, muitíssimo obrigada, mas  sei ler, meu bem, sou alfabetizada e dotada de letramento!”. Todos na fila se entreolharam, cochicharam e a senhorita saiu de cara feia e ficou ao lado dos caixas. Por sorte, ao lado do caixa que eu seria atendida. Eu que não sou besta nem nada, assim que cheguei ao caixa me identifiquei para a garota que me atenderia com a minha carteira e a minha identidade. Muito educadamente, ela me pediu licença para perguntar o que tinha quando olhou para o meio do meu peito e viu a cicatriz de 8 centímetros. Resumi para ela a história e falei o tempo que tinha sido operada. A funcionária que havia tentado me destratar antes não conseguiu esconder que estava completamente constrangida e assim que terminei de contar a história e mandei umas indiretas para ela saiu de fininho.

Há ações muito simples que cada um de nós deve praticar cotidianamente. Ao invés de ter pena do cego, ajude-o a atravessar a rua; respeite a vaga de estacionamento para portadores de deficiência física; ceda o lugar nos assentos antes mesmo do lugar ser solicitado. Respeite o limite daquele que te diz “Só vou até aqui!”. Existem pessoas que gostam e abusam da condição de deficiente, mas ninguém desejou estar em tal condição. Já nos bastam as pessímas condições das ruas e calçadas e o acesso aos prédios públicos, banheiros, lojas, restaurantes ou ambiente de entretenimento...
http://ivanfidalgo.blogspot.com/2008/12/dia-mundial-dos-portadores-de.html


Algumas pessoas mais próximas a mim e que estão bem perto de irem para bem longe, afinal eu não agüento mais certas conversas, não entendem como há dias em que eu estou numa boa, fazendo farra, trabalhando, fazendo yoga e em outros não tenho forças sequer para prender o cabelo. Quem ainda tem dúvidas pode fazer três coisas que recomendo. A primeira é marcar uma consulta com um médico ou médica neurologista e buscar informações acerca da Miastenia Gravis. A segunda é confiar naquilo que eu digo, explico e reexplico sobre a doença e entender que eu tenho limites e que apenas eu posso delimitá-los. A terceira é dar conta de uma trouxa de roupas para lavar e passar, procurar ler um livro ou catar cascas de amendoim, uma por uma na Estação da Lapa e parar de encher a minha paciência. Caso nada disso resolva, há ainda uma opção minerva. Vou fazer um acordo com alguma instituição que faça adoção de gatos. Desta forma, para aqueles que ficarem tomando parte da minha vida, dou um felino de presente. Creio que desistam de tomar conta do que acontece com a minha vida para darem conta das sete vidas do gatinho que ganharam de presente!

Ainda para aqueles e aquelas que acham que a concessão de um desconto para a compra de automóvel, assentos reservados ou atendimento prioritário é algo vantajoso, experimente sentir e imaginar em si as dificuldades, dores e dissabores de quem tem problemas de locomoção e de praticar ações muito simples e corriqueiras como atravessar a rua, ir e vir para onde quiser, como e quando quiser. Quem quiser Miastenia Gravis, estou doando a minha e ainda pago indenização!
http://dossiemagali.pbworks.com/w/page/18123281/defici%C3%AAncia-f%C3%ADsica


Para maiores informações: 

Um comentário:

Ana Azimovas disse...

Muito legal sua postagem amiga, concordo com suas colocações...abraços e saudades imensas de falar contigo...
escreva mais gosto de ler seus textos muito :)
www.anaazimovas.blogspot.com
Ana Azimovas