sábado, 25 de fevereiro de 2012

Acabo de receber por email, creio ser importante dividir como todas e todos!

Esta resposta reflete de fato o que aconteceu comigo e o que acontece com muitas mulheres mundo afora. Não sou a primeira nem serei a última, mas o encorajamento para denunciar o sexismo é de suma importância.
 
Senhora Sacramento,


Li atentamente o seu texto, que me foi enviado pela Senhora Mwewa, que nos lê em cópia. De fato estarrecedor como muitas vezes as pessoas pregam uma revolução que não fazem dentro de si ou, até, abortam-na. Em muitos anos de trabalho em comunidade carente do Rio de Janeiro, assisti a fatos, como um, que brevemente lhe conto. Reunido com as agentes comunitárias de saúde (sou médico de profissão), não sei como, surgiu o tema da tirania e da opressão em nossa conversa. Perguntei a elas onde elas identificavam "tirania" e "opressão" fiquei impressionado como aquele grupo de mulheres negras e/ou mulatas e/ou curibocas tinham uma noção exata e uma leitura acurada sobre o tema, pois citaram vários atores do mundo que as oprimia e tiranizava, a saber o pai (os pais), o marido, o policial, o trocador do ônibus, o policial, entre outros, digamos assim, tiranos e opressores. Entusiasmado com o que ouvia, fiz-lhe a pergunta que cabia: "Conscientes do que me acabam de dizer, você não repassam a opressão nem a tirania, correto ?". Obtive o silêncio como resposta, todas olhando fixamente para o chão. Timidamente, elas foram revelando que repassavam sim a opressão sobre os filhos. Uma, inclusive, justificou com o mote "Bato hoje para que eles não apanhem da polícia amanhã." Sem profunda reflexão, tudo fica para consumo externo. Conheci líder estudantil inflamadíssimo sobre o palanque, bradando contra a ditadura e pela liberdade, mas que aplicava surras na companheira. Sem reflexão, apenas repetimos o que nos ensinaram, tanto para o bem como também para o mal.
Eu próprio, enquanto brasileiro mulato-cafuzo, já sofri todo tipo de preconceito, vindo de tudo quanto é lado. Nunca baixei a cabeça, nunca calei minha voz. Se minha presença incomoda, sugiro que se mudem para não me verem, pois não vou ausentar-me apenas para não "poluir" o fino ambiente de certos grupos. Não querem ver-me ? Que furem os olhos.
Lamento o que lhe ocorreu e aproveito esta mensagem para expressar-lhe minha solidariedade e dizer-lhe: coloque sim a boca no trobone, para poder olhar-se no espelho e dizer "não sou cúmplice do mal que tentaram fazer-me".

Atenciosamente,

Antônio José dos Santos
Embaixada do Brasil em Pionguiangue
República Popular Democrática da Coreia

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente com este texto que veio de tão longe para falar de uma triste realidade que acontece bem debaixo do nosso nariz. Lamentável.

Paula disse...

Isso é muito comum mesmo, já conheci vários "pacifistas", "defensores da liberdade" etc que na vida pessoal eram extremamente intolerantes e violentos. "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço".