domingo, 11 de setembro de 2011

Estranho não é ser gay, estranha é a homofobia



A minha história com a homossexualidade remonta os tempos em que eu era criança e era aluna da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Convivi durante 11 anos em que fui aluna da escola com muitas pessoas de orientação sexual diferente da minha de forma muito tranqüila. Nunca observei com espanto o fato das bichas externarem efusivamente a sua forma de amar e sempre gargalhei muito das “fechações”, dos viados sem construir estereótipos sobre isso. O ser gay, para mim, sempre foi natural. A escola inclusive primava pelo respeito mútuo a tal ponto que estava implícito que isto incluía a orientação sexual de cada e nem discutíamos sobre esta questão. Cresci convivendo com homossexuais, dividindo palco com eles, dançando, sendo aluna em turmas de homens e mulheres gays ou não, criei fortes laços afetivos que perduram até hoje, por isto mesmo, para mim, o que causa estranhamento é a homofobia.

Após vivenciar uma situação muito constrangedora há uns dias, venho remoendo a dor de não poder tratar a homossexualidade abertamente e de forma natural em muitos espaços. Externei a orientação sexual de um amigo meu num lugar público, enquanto conversávamos num pequeno grupo de pessoas “conhecidas”. O meu comportamento gerou certo desconforto para uma das pessoas do grupo, que alegou que eu expus o meu amigo a uma situação vexatória e, de certa forma, perigosa, por conta dos ataques a homossexuais que acontecem cotidianamente. De forma muito descontente, preciso “concordar” com ele. Meu Senhor do Bomfim, como fiquei triste com esta situação. Eu, heterossexual, nem sempre posso tratar como iguais os meus amigos que são homossexuais, pelo menos não abertamente. Infelizmente, cheguei à triste constatação de que heterossexuais também são vítimas da homofobia.

Tenho referências muito próximas a mim na luta de afirmação de direitos e pela causa gay no Brasil. Luciano Freitas, por exemplo, um grande e querido amigo meu, milita pela causa em Recife e ele sempre externou, de forma muito competente, nos congressos que participamos juntos, que é preciso, inicialmente, construir um debate qualificado acerca da peleja diária em favor da igualdade da orientação sexual. Cito ainda Ricardina, um querido amigo que afirma de forma veemente que eu tenho alma travesti, que respira a discussão aqui na Bahia. Ricardo Santana, professor de História da rede estadual de ensino, tem causos e casos a contar que parecem ser protagonizados por qualquer outra espécie, que não a humana. Meu primo, Herege Sacramento, aquele que sempre diz a mim e ao mundo que “farinha com farinha não faz farofa” é um exemplo que também acrescenta pimenta na causa. Obviamente conheço, convivo, converso, trabalho, curto, vivo, idolatro, amo muitas pessoas com orientação sexual diferente da minha e que também estão nesta estrada em busca de respeito, mas eu não vou citá-las.

O reconhecimento da união homoafetiva, a inclusão da temática na formação de professores e no currículo escolar e a criminalização da homofobia são demandas urgentes que devem ser atendidas pelo Estado. Esta discussão não deve ser permeada através dos falsos valores morais, principalmente aqueles impressos na sociedade pela perversidade de algumas religiões.

De acordo com o artigo 5º da Constituição Brasileira: “Todos (e todas) são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos (às) brasileiros (brasileiras) e aos (às) estrangeiros (estrangeiras) residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” O fortalecimento do exercício da cidadania no país perpassa pela consciência de que a participação de cada um de nós como cidadão e cidadã é importante para a consolidação dos direitos humanos como direito de todos e todas.

Para mim, é urgente construir bandeiras de lutas que combatam quaisquer formas e comportamentos discriminatórios, o que me leva a concluir que, o combate à homofobia e a promoção dos direitos huma­nos de homossexuais deve ser, prioritariamente, um compromisso do Estado, seguido de toda a sociedade brasileira.

Por isso mesmo vou seguindo e lutando para conseguir quebrar mais facilmente um preconceito do que um átomo, ao contrário do que disse Albert Eisten.


Um comentário:

Raí Silva disse...

A nossa militância ainda está num patamar muito menor do que se imagina. Contudo a evolução para esta luta se faz forte quando lemos estes singelos (e tão importantes) textos. Também me assumo enquanto gay, apesar de por várias vezes estar em situações constrangedoras e vexatórias, mas isso não me faz abaixar a cabeça e desistir de lutar em favor do respeito e igualdade entre às pessoas. Se me permite, aproveito a oportunidade pra fazer o "merchan" do blog tmb que fala apenas sobre este assunto, homossexualidade. http://raidossantos.blogspot.com/