sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pessoas,

Recebi este texto sobre a greve da Polícia Militar na Bahia para refletir, advertir e, de alguma forma, divertir.

A autoria é pseudômica dada a possibilidade de represálias, nunca se sabe. Recebi e estou postando aqui no blog...
Boa leitura!
 

Memórias do cárcere
*Por Gabriela Sánchez

         Em mais de dez dias de negociações, boatos de arrastões, arrastões de fato, clausura domiciliar, “Prende Prisco!”, habeas corpus negados e dentre outras muitas situações vivenciadas neste período de greve da Polícia Militar no estado da Bahia já me sinto em condições de escrever as minhas memórias no cárcere.
   
         É sob esta condição que nos encontramos no contexto de terror e pânico instaurado nos últimos dias. De alguma forma, encontro-me terrivelmente assustada com a condição de quem protesta neste Estado por melhores condições de trabalho, leia-se de vida. Há algum tempo, bem pouco tempo atrás, os réus protestantes eram as(os) professoras(os) universitárias(os) das universidades estaduais da Bahia e dos Institutos Federais. Por muito menos prejuízo emocional, financeiro e psíquico que o imaginário da greve docente causou à sociedade baiana (detenho-me a avaliar unicamente a “violência” da faca e do revólver, não a intelectual, da criticidade, da emancipação dos sujeitos, etc) o Governo do Estado cortou os salários dos reivindicandos, afinal grevista não deve ganhar no mole, proibiu os empréstimos consignados, afinal grevista não tem crédito, o Credicesta afinal grevista não come e o Planserv, afinal grevista não adoece. As últimas notícias acerca das providências de quem manda nesta zona com relação a continuação ou não da greve foram divulgadas hoje a noite pelo meu também patrão, Jacques Wagner: “Começaremos a cortar o ponto dos grevistas, não temos outra opção”.
   
         Mesmo após a prisão de Marcos Prisco, um dos principais líderes do movimento, a greve continua. A disposição de quem sempre foi uma referência nas greves e nas mobilizações sociais em prol de mudanças contra o autoritarismo carlista vem criminalizando as lideranças. Não restam dúvidas de que quaisquer comportamentos criminosos, sejam de quem for, devam ser criteriosamente avaliados, CONTEXTUALIZADOS e, a partir disso, que providências venham a ser tomadas, ou queimar ônibus e fazer barricadas nunca foram estratégias da militância nos seus movimentos aqui na Bahia? A forma enérgica como o governo do Estado vem se reportando ao exercício democrático da reivindicação conquistado após o derramamento de sangue, por exemplo, na ditadura militar, é, no mínimo, um desrespeito a própria história, por exemplo, do governador do Estado, que utilizou a pauta com as demandas da Polícia Militar como uma das suas promessas de campanha.

         Com a postura ríspida e autoritária do governo, os avanços nas negociações estão a passos de “tartaruga paraplégica”, o que certamente tem sido o fator principal para o aumento de homicídios, assaltos, latrocínios e pânico. Desta forma, parece que depois que a greve acabar o governador será réu na ação coletiva movida através do Ministério Público por cárcere privado dentro da própria casa das vítimas. As vítimas, a sociedade baiana.

         Contudo, creio que esta não seja uma ação que conte com a participação de pessoas tão ilustres desta terra maravilhosa contra o governador. Obviamente, Ivetona quer mais é carnaval, onde ela exibirá as suas pernas sinuosas da malhação anual em cima do trio e gritando: “Madeira!”; o pau come no centro! A Claudinha que queria faturar sendo Café no Carnaval e que deve estar com a cara mexendo por conta do “Não!” do Ilê com relação à sua coroação como a nêgaloura da Bahia deve estar louca pra papar rios de dinheiro com seu bloco Papa. Mais digna ainda é a indiferença do Prefeito João Henrique, que enquanto os “polícia” corriam dos tiros das balas de borracha ele fazia os seus exercícios físicos na orla carioca para manter o “corpitcho” ao lado da sua nova... Ops... Isto não está em questão...

         Já não bastassem as cenas de violência cotidianas que a televisão veicula, com a greve, a manutenção da audiência tem sido o carro-chefe do trabalho da maioria das emissoras. Isto é problema apenas para quem não tem o “peiperviu”, paciência! O que tem sido veiculado (manipulado) pela maioria das notícias sobre a greve tem incitado cada vez mais a revolta da população contra os trabalhadores e trabalhadoras em questão. O embrutecimento tem sido tão severo, vindo literalmente “Dilma” para baixo, que o pobre general foi responsabilizado por enfraquecer as negociações por soprar as velinhas de um bolo surpresa que certamente não foi feito com dinheiro público. Já vazou daqui, ordem da maquinista. Onde já se viu general chorar? Se fosse uma mulher, uma generala de salto alto? Ao receber uma rosa e chorasse no meio da guerra de nervos e da tensão provocada por uma greve em que o instrumento infalível de persuasão é a arma diria que a criatura tem que segurar a TPM? Piadas a parte, não dá para ser cortês como Zeca Baleiro. Nada de flores ao delegado!






*Filha do escritor Jorge Amado, fruto de uma pulada de cerca com a mãe de Yoani Sánchez, blogueira cubana. 

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