Eu ainda não tenho antecedentes criminais. Não sei o que pode acontecer no futuro, por isso mesmo que não posso afirmar que sempre terei ficha “limpa”. Entretanto, tenho a sensação de que em alguma encarnação passada eu deva ter dividido cela com uma amiga minha, minha parceira de tudo, Sibeli Mocelim. Nos conhecemos há cinco anos e dividimos quase tudo, isto mesmo quase tudo tudo. Quando não divido ela toma na tora, mas depois eu não ligo, afinal ela é minha parceira fiel.
Nunca estive no cárcere, mas pelo que vejo e ouço, os presos têm comparsas, parceiros, companheiros, enfim, aqueles com quem compartilham tudo. Tenho certeza também de que neste período em que estivemos com a liberdade cerceada, Sibeli me seguiu num plano frustrado de fuga e teve que passar trinta dias na solitária. Isto explica a nossa insanidade.
Assim que ela saiu da solitária, quase louca, tive que ceder a ela minha farda, pois eu na cadeia vivia a engordar e emagrecer, como acontece na vida real. Meu guarda-roupa anda trancado, por causa das visitas desta minha amiga ao meu quarto. É um perigo, preciso manter vigilância constante e revistar a sua bolsa quando ela vai embora. Sibeli é uma fina ladra! Por isso está comigo numa cela.
Aposto que quando fiquei doente, Sibeli trocou as suas atividades como profissional que atendia aos mais carentes presos da ala masculina para ser auxiliar de enfermagem, enquanto estive internada. Sinto que ela fez o mesmo quando dormiu comigo no hospital quando fiz cirurgia e ia me visitar sempre que podia, demonstrando claramente nos olhos a sua preocupação com sua afro. Sibelão, vulgo da minha companheira de cela, gosta de estar perto.

Sibeli sempre se envolvia em apostas. Ela era alcoólatra e por cachaça ela apostava tudo. Por isso eu nunca tinha economias, sempre livrava a minha amiga do sufoco, como hoje. Ah, nunca pude ter perfumes ou desodorantes a mostra; ela sempre bebia até a última gota. Nunca espero o retorno do dinheiro, a coitada é viciada, pelo menos não usa drogas mais pesadas.
Temos uma amiga em comum que sempre nos visitava na cadeia, Cândida. Ela nunca deu conta das nossas travessuras juvenis que nos levariam à prisão mais tarde. Sempre acompanhou muito de perto, mas sem se envolver, as nossas “lamas”. Candoca tinha outros interesses.
Sibelão adorava criar os nossos disfarces, tanto que ela já esteve loira de cachinhos, ruiva, cabelos pretos e lisos, dentre muitos outros disfarces. Ela é uma pessoa linda, apesar de todos os apesares e marcas que a vida deixou nessa criatura tão amada por mim. Como em todo ano, eu conseguia fazer pequenos trambiques para dar o presente de aniversário de Bebeli, como este ano, mesmo não tendo recebido presentes dela nos meus. Entendo, coitada! Está prestes a vender os dentes para nutrir o seu vício, até porque nada mais nela serve para ser vendido, tudo “barriado”.
*As condições de produção deste texto devem ser observadas, caso você entenda que há semelhanças com a vida real. São 3:00 da manhã e já não sei mais como definir o que é verdade ou pura coincidência com a realidade.
Um comentário:
Amigaaaaaaaaa......sem palavras, aliás,simplesmente te amo minha afro irmã!!! Me sinto muito feliz por ter vc na minha vida!!!!! Bjokas!
Postar um comentário